Primeiro foi o queixo que lhe tremeu, depois vieram as lágrimas. Conrad
Murray não se conteve quando o seu advogado falou sobre a amizade que o unia a
Michael Jackson e chorou no julgamento em que está acusado de homicídio por
negligência do cantor, falecido a 25 de Julho de 2009, de overdose.
Mas Conrad Murray tem mais razões para chorar: a testemunha
chave da acusação - o farmacêutico Tim Lopez, que diz ter vendido 15 litros de
propofol ao médico nos três meses que antecederam a morte do artista - regressou
da Tailândia e vai depor, em sessão ainda não anunciada.
Entretanto, a família Jackson, não recuperada do choque de ter
visto o cadáver do seu familiar na maca - imagem que correu o Mundo e indignou
muitos fãs - ouviu, em tribunal, uma gravação feita por Conrad Murray no seu
iPhone, seis semanas antes da morte de Michael Jackson. No telefonema mal se
percebe o que o cantor diz, de tal forma a sua voz está fraca e arrastada.
Jermaine Jackson apressou-se a vir a público comentar.
"A voz não demonstra que o meu irmão era drogado - como já li
algures", diz. "Prova apenas que, naquele dia, estava sob a influência de alguma
substância que não conhecemos e que o médico devia tê-lo ajudado".
Mas a defesa, que nas suas primeiras alegações quis também
tocar no coração dos jurados e sublinhou o facto de Conrad Murray e Michael
Jackson terem sido amigos entre 2006 e 2008 - antes do cardiologista ter sido
convidado para ser o seu médico pessoal na tournée ‘This Is It' - pretendeu
sugerir isso mesmo.
Que Michael Jackson já não conseguia dormir sem o auxílio de
drogas. "Conrad Murray é um homem imperfeito. Concedo. Mas não é culpado.
Michael Jackson automedicou-se, ingeriu oito comprimidos [de lorazepan] e depois
tomou uma dose de propofol que criou uma tempestade perfeita no seu corpo.
Morreu logo. Não havia como salvá-lo", disse Ed Chernoff.
Numa sessão marcada pelo nervosismo - até o advogado de defesa,
num texto projectado em tribunal, escreveu mal o nome ‘Michael' - foram ouvidas
várias testemunhas, entre as quais Kenny Ortega, colaborador regular do cantor,
e Michael Williams, seu assistente pessoal. Ortega confessou que, nos últimos
tempos, Jackson lhe parecia "uma criança perdida" mas que, quando interpelou o
médico, este lhe respondeu: "Deixe de se armar em médico ou psicólogo amador.
Ele está em perfeitas condições físicas e mentais para assumir as suas
responsabilidades."
O julgamento terminará a 28 de Outubro e se for condenado
Murray incorre numa pena de quatro anos e perderá a sua licença como médico.