RIO - E não é que até Michael Jackson caiu no samba? A laje do Morro Santa
Marta onde o rei do pop gravou o clipe de "They don't care about us" há 15 anos
e que acabou sendo batizada com o nome dele em 2009, agora dá espaço a músicas
de Cartola, Nelson Cavaquinho, Dona Ivone Lara e cia., no evento Pôr do Santa,
que é popularmente chamado de Samba do Michael Jackson. A sexta edição acontece
neste sábado, a partir das 16h, de graça.
Samba na favela parece meio óbvio, mas o curioso nesse caso é a integração
que rola entre o morro e o asfalto. A ideia partiu dos amigos Xande Araripe,
Roberto Moreno e André Rios, moradores de bairros nobres da Zona Sul. Os três já
tocavam na noite carioca, mas queriam fazer uma roda de samba na comunidade. Foi
aí que conheceram Gilson Fumaça, guia turístico nascido e criado no Santa Marta.
- Eles me procuraram em março e, como eu queria comemorar meu aniversário e
não sabia o que fazer, acabamos unindo o útil ao agradável. Minha tia fez a
feijoada que virou marca do evento - diz o guia local do projeto turístico Rio
Top Tour, que leva os visitantes para conhecer a favela. - Na última edição,
havia uns 60 gringos.
Mas o samba não é só para inglês ver. Os organizadores têm a preocupação de
não transformar o Pôr do Santa numa festa exclusiva da playboyzada, como as que
acontecem na quadra da comunidade e custam mais de R$ 50. Os jovens
frequentadores não têm nem de longe o perfil dos pitboys que arrumaram confusão
e estragaram o baile funk do morro, no início do mês.
- A ideia não é fazer apenas um evento na favela, mas para a favela. Por isso
é de graça. Eles fazem a feijoada e vendem a cerveja, movimentando a economia
local - diz a vocalista do grupo, Joana Rychter.
O percussionista Xande Araripe reitera o compromisso com a comunidade e sonha
em ampliar o projeto, que reuniu cerca de 200 pessoas na sua última edição:
- Temos uma preocupação social. Arrecadamos alimentos não perecíveis e latas
de leite em pó para doar para a creche local.
Como o samba está bombando, é melhor chegar cedo, pois a espera na fila do
plano inclinado pode ultrapassar uma hora. Quem tiver paciência para aguardar
deve descer na quarta estação. Mas dá para subir a pé também. A caminhada leva
uns 15 minutos e permite mais integração com os moradores. Só não se comporte
como um turista deslumbrado por estar numa favela. E não tenha medo.
- No início, as pessoas ficavam meio receosas de subir. Mas optamos por fazer
o samba lá em cima justamente para quebrar esse tabu. Além de o visual ser
sensacional - comenta o percussionista André.
E é mesmo. Não foi à toa que Michael Jackson escolheu o local para gravar
"They don't care about us". A diferença é que agora "eles" se importa
o globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário