LOS ANGELES, EUA — O médico de Michael Jackson agiu como "um empregado" ao
obedecer ao cantor dando a ele o sedativo que pedia, e cometeu "violações
intoleráveis" de sua profissão, denunciou nesta quarta-feira um especialista em
anestesiologia, durante o julgamento de Conrad Murray, em Los Angeles.
"Michael Jackson queria propofol todas as noites para poder dormir, e Conrad
Murray lhe dizia 'sim'. Isso é o que faz um empregado (...) Não estava exercendo
seu julgamento médico", criticou o anestesista Steven Shafer na Suprema Corte de
Los Angeles.
"A relação médico-paciente consiste em que o médico ponha o paciente em
primeiro lugar. Isso não significa que faça o que o paciente pede, e sim o que
for adequado", assinalou Shafer.
Murray, um cardiologista de 58 anos, era o médico particular de Jackson, e é
acusado de homicídio culposo por ter tratado a insônia do cantor com um
anestésico.
"Um médico teria dito a Jackson: 'Não vou te dar nada', e teria relatado o
caso a um especialista", criticou Shafer. Além disso, Murray cometeu "violações
intoleráveis" das normas da profissão, que levaram à morte do Rei do Pop,
afirmou o anestesista. "Michael Jackson morreu porque deixou de respirar, o que
é totalmente normal e rotineiro durante um procedimento, mas não representa um
problema", porque o médico deve estar ali para desobstruir as vias do
paciente.
Murray alegou ter se ausentado por alguns minutos, para ir ao banheiro, após
sedar Jackson, e que, ao retornar, notou que o cantor não respirava. "No local,
não havia praticamente nenhuma das medidas de prevenção que são tomadas durante
a administração do propofol", apontou Shafer.
Em um depoimento duro, o último apresentado pela promotoria antes da
apresentação das testemunhas de defesa, a partir de sexta-feira, o anestesista
indicou que essas violações, além da falta de um monitor do ritmo cardíaco e da
ausência de um prontuário médico, "contribuíram para a morte de Michael
Jackson".
Segundo Shafer, Murray foi ainda antiético ao negar à família de Jackson
acesso ao histórico médico do cantor. O anestesista disse que concordou em
servir de testemunha porque se preocupa "com a reputação dos médicos", e que
espera "ajudar a recuperar a confiança nos anestesistas".
"Todos os dias, na sala de cirurgia, quando digo aos pacientes o que vou
fazer, eles me perguntam: 'Vão me dar a droga de Michael Jackson?'", narrou o
anestesista. "Não deveriam ter medo, o propofol é um medicamento excelente."
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